Os Deuses Africanos na Cultura Pop: Como Orixás e Ancestrais estão Ganhando Espaço no Cinema e Games

Introdução

A mitologia sempre desempenhou um papel essencial na construção do imaginário humano, funcionando como um meio simbólico de compreender o mundo e a psique. Com a ascensão da cultura pop e das mídias digitais, os mitos foram reimaginados e ressignificados, incorporando arquétipos antigos a novas narrativas. No entanto, durante muito tempo, as mitologias africanas e afro-brasileiras foram marginalizadas em produções de grande alcance. Recentemente, essa realidade tem mudado, com a crescente presença de Orixás e deuses africanos no cinema, na televisão, nos quadrinhos e nos videogames.

A partir da psicologia junguiana, podemos entender esses mitos como imagens arquetípicas que atravessam diferentes culturas e se manifestam de acordo com as necessidades psíquicas da sociedade【288:0†As Eras mitológicas dos super-heróis Mitos modernos nas HQs】. A representatividade dessas divindades em narrativas contemporâneas reflete um movimento coletivo de resgate da ancestralidade, de empoderamento e de construção de identidade para as populações afrodescendentes ao redor do mundo.

Os Orixás no Cinema

A presença dos Orixás no cinema ainda é incipiente quando comparada à de mitologias europeias e orientais, mas algumas produções têm se destacado ao trazer essas divindades para o centro das narrativas.

  • Pantera Negra (2018): O filme dirigido por Ryan Coogler é um marco da representatividade negra no cinema e traz referências diretas à mitologia iorubá. Wakanda, com sua conexão espiritual com ancestrais e o uso de rituais, evoca a relação dos povos africanos com seus deuses. O conceito do plano ancestral, onde T’Challa se comunica com os antigos reis, lembra a conexão com os Orixás como guias espirituais【288:6†As Eras mitológicas dos super-heróis Mitos modernos nas HQs】.
  • Medida Provisória (2022): Dirigido por Lázaro Ramos, o filme apresenta um Brasil distópico onde pessoas negras são deportadas para a África. Além da forte crítica social, a narrativa insere elementos de espiritualidade afro-brasileira, evidenciando a resistência cultural e religiosa.
  • O Filme dos Espíritos (2011): Embora mais focado no espiritismo kardecista, a produção insere referências às religiões afro-brasileiras, demonstrando a interseção entre diferentes tradições espirituais no Brasil.

Os Orixás nos Videogames

Nos videogames, a presença dos Orixás e de divindades africanas tem crescido gradativamente, refletindo uma busca por maior diversidade nas narrativas interativas.

  • Dandara (2018): O jogo independente brasileiro Dandara se inspira na heroína histórica do Quilombo dos Palmares, mas também incorpora elementos de mitologia afro-brasileira. A protagonista representa a resistência e a força dos povos negros, evocando arquétipos de guerreiras míticas como Oyá (Iansã).
  • Smite (2014): O popular jogo de batalha entre deuses adicionou personagens da mitologia iorubá, como Xangô e Yemoja, permitindo que os jogadores interajam com divindades africanas ao lado de figuras como Zeus e Odin.
  • Assassin’s Creed: Origins (2017): Embora focado na mitologia egípcia, o jogo resgata a conexão entre as divindades africanas e a construção de narrativas míticas, destacando a importância da ancestralidade no imaginário coletivo.

A Presença dos Orixás nos Quadrinhos e Séries

Os quadrinhos e as séries também têm sido meios eficazes para a disseminação da mitologia africana e afro-brasileira, expandindo sua presença para um público mais amplo.

  • Orixás: Renascimento (2018): HQ brasileira que reinterpreta os Orixás como figuras heroicas em um universo moderno, semelhante ao modelo da Marvel e da DC.
  • Super Choque (2000 – 2004): A série animada, embora focada em um super-herói contemporâneo, aborda questões culturais e espirituais da diáspora africana, trazendo elementos de religiosidade e resistência.
  • Cidade Invisível (2021): A série da Netflix resgata mitos do folclore brasileiro, incluindo referências a Exu e outras entidades afro-brasileiras, mostrando como esses mitos continuam vivos na contemporaneidade.

A Importância da Representação e do Resgate Cultural

A crescente presença das mitologias africanas e afro-brasileiras na cultura pop não apenas amplia a diversidade nas narrativas midiáticas, mas também permite a reafirmação da identidade cultural de milhões de pessoas. Para a psicologia analítica, esse movimento pode ser visto como um processo coletivo de individuação, no qual culturas historicamente marginalizadas reivindicam sua ancestralidade e sua espiritualidade como parte fundamental de sua construção psíquica【288:0†As Eras mitológicas dos super-heróis Mitos modernos nas HQs】.

Os mitos não são apenas histórias do passado – eles continuam a se transformar e a se manifestar em novas formas. A ressignificação dos Orixás no cinema, nos games e nos quadrinhos mostra que esses arquétipos ainda têm muito a ensinar sobre coragem, resistência e transformação.

Conclusão

O avanço da representatividade dos Orixás na cultura pop é um reflexo da necessidade humana de reconectar-se com suas raízes e símbolos ancestrais. À medida que mais produções cinematográficas, jogos e quadrinhos exploram essas mitologias, a narrativa do herói se amplia, incorporando perspectivas que foram historicamente apagadas. Esse resgate não apenas fortalece a diversidade cultural, mas também reafirma o poder dos mitos na construção da identidade coletiva e individual.

A jornada dos Orixás na cultura pop ainda está apenas começando, mas já demonstra que os mitos africanos e afro-brasileiros continuam vivos e pulsantes, ecoando através das narrativas que moldam nossa era.